Diário da Quarentena - 11ª Semana

Pois é, muito mais tempo do que jamais pensávamos lá em março, quando tudo começou. Tanto tempo que às vezes até parece que estou acostumada, cada vez mais estou esquecendo da vida lá fora. Quando eu olho pela janela a antiga realidade vem à lembrança, mas como acaba sendo triste a percepção da atual situação eu acabo nem olhando pela janela. 

Nem mesmo tenho o ímpeto de sair de casa. Quando vou pra área externa do prédio tomar um sol é pra fazer companhia à minha irmã, que alega ter essa necessidade - mas quando tenho esse contato, mesmo que pequeno, com o calor do sol, o céu visto de baixo, começo a me sentir felizinha, e entendo que é o efeito de estar fora. É tão bom. É uma sensação tão boa que dá até esperança de voltar a ser livre e andar por aí sem máscara.

Tem semanas que não vou lá embaixo. Tem meses que não passo do portão. Só que cada vez mais parece que sou das poucas pessoas que fazem isso, sabe? Pessoas viajam para suas casas de praia, pessoas vão ao cabelereiro, pessoas fazem procedimentos estéticos no dentista. Está tudo lá, no Instagram. Esses dias teve uma festa de gente rica em que o teste para o Covid-19 estava sendo feito na entrada. Uma das coisas mais absurdas que tive conhecimento nesse período!

E nem preciso ir muito longe, um colega de trabalho tem os finais de semana em quarentena mais badalados que meus finais de semanas em situação normal. Uma programação em cada. Mas não quero reclamar dos outros, nem me sentir besta, quero mesmo cuidar de mim e preservar minha família. 

Além disso, parei de fazer, ou melhor, de tentar fazer exercícios físicos em casa. Quero retomar, mas nada certo. Às vezes acho que é por eu ser procrastinadora, por não ter mesmo o hábito de me exercitar. Também assumo que não vou me cobrar nada nesse período que, mesmo que não seja percebido ou seja diferente pra cada um, é sim completamente atípico e nos torna bem sensíveis. Saúde mental e emocional, antes de qualquer coisa.