Será que eu sou mesmo Antirracista?
Eu sempre considerei que não sou racista. O motivo mais antigo, que me acompanha desde a infância quando essa questão começou a aparecer, é que sempre achei errado discriminar alguém pela sua aparência. Depois, eu sempre tive amigos negros por perto, gostava muito daquela professora que era negra, tinha uns caras negros que eu achava gatos e me interessava. Ou seja, definitivamente eu não era racista! E esses argumentos me convenceram durante muito tempo. Até que o assunto começou a ser maciçamente discutido, principalmente com o advento da internet e mídias sociais, e eu pude aprender sobre o racismo estrutural.
Não quero falar muito do assunto, pois não tenho a confiança nem o conhecimento necessário para, mas o racismo estrutural é um aspecto cultural da sociedade em que estamos inseridos. Não se escolhe, você faz parte da sociedade e coisas como essa te afetam desde sempre. Mesmo que você não saiba. Eu fui afetada desde sempre, mesmo sem sequer saber que existia nem que tinha um nome: racismo estrutural.
É complicado, e complexo. E de certa forma é ruim se perceber racista mesmo quando você entende que é errado.
As palavras ou atitudes derivadas do racismo estrutural não são intencionais. E isso que é o mais... Difícil. Mas, felizmente, tenho aprendido a respeito e agora, quando tenho alguma fala ou pensamento nesses termos, eu lembro do que tenho aprendido e me repreendo: não, isso é errado! Isso é racismo!
Nos últimos dias tivemos uma revolução devido a morte injusta de um homem, George Floyd, por ser preto. Houve uma comoção iniciada na internet que levaram a protestos nas ruas dos EUA - ele era americano- . Foram muitos posts com a temática antirracista e eu, assim como muitos, compartilhei alguns deles por concordar, por apoiar a causa, por querer ao menos me posicionar em relação a algo que deveria ser de senso comum. Até que assisti a um vídeo de uma digital influencer preta que logo no início dizia algo mais ou menos assim: Você se diz antirracista por esse fato que aconteceu EUA, mas semana passada duas pessoas negras foram mortas aqui no Brasil e você não se posicionou.
Isso foi um balde de água gelada em mim. Mesmo. Senti vergonha de ter compartilhado aqueles posts, de ter me posicionado por uma questão naquele momento. Por que naquele momento? Por que não antes? Efeito manada? Eu me senti envergonhada e até hipócrita por falar de um tema apenas quando todos os outros estão falando, entende?
Eu sei que não tive a intenção oportunista de aproveitar de uma situação pra aparecer (sabemos que isso é muito comum na internet), mas ainda assim me julguei, sabe?
Passei por uma luta interna, cogitei apagar o post, que não estava sendo coerente, mas por fim decidi que se era algo que eu pudesse fazer, mesmo um post com o mínimo de visualizações, era melhor do que me omitir. Mas as palavras daquela menina ficaram martelando na minha cabeça, e continuam martelando aqui (entenda, não a vi como vilã, ela está absolutamente certa e isso que me assustou e tem me levado a reflexão). É preciso ser antirracista. Mas será que eu sou mesmo antirracista? Será que levantar uma bandeira quando todos já estão com a sua em punho faz de mim uma antirracista?
Eu não sei. Talvez não.
Eu sei que não é o suficiente, mas era o mínimo que eu podia fazer naquele momento então acabei por decidir fazê-lo. Como a fábula do passarinho que tenta apagar um incêndio despejando uma gota de água por ser a quantidade que cabe em seu bico. Não é o suficiente e ele sabia disso, mas preferiu agir que se omitir. Eu preferi ser como esse passarinho. Sei que não sou a pessoa mais preparada pra isso, sei que um post meu não tem nada perto do poder necessário pra fazer a diferença, mas a minha gota de água estava lá. E vai estar.
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